Nos últimos anos temos experimentado uma mudança na maneira de criar, especialmente a Inteligência Artificial, que transformou nossos ritmos de trabalho, nossas relações e até a maneira como pensamos.
A transformação pela chegada de novas tecnologias se faz presente na vida dos seres vivos há milhares de séculos. A começar pela prática de dominar o fogo até chegar nos dias de hoje, com o uso cada vez mais avançado da tecnologia digital.
Neste artigo, abordaremos como fazer atividades manuais impactam positivamente nosso bem-estar, por que elas retornam com força em tempos de IA e o que pesquisas recentes mostram sobre seus benefícios para ansiedade, estresse e propósito de vida.
A aceleração tecnológica e o impacto na saúde mental
Pensadores já falaram sobre arte e reprodutibilidade, outros sobre o fim do mundo e muitos filmes narram um futuro onde seres vivos e máquinas convivem. Cada vez mais é possível perceber no Brasil a presença de assistentes de voz, alguns utilitários como robôs de limpeza de chão, mecanismos virtuais com a presença de IAs ou serviços automatizados em estabelecimentos, enquanto outros países como a China, já existem pessoas que convivem com drones entregando em casa, robôs que possuem estruturas humanoides e outras tecnologias digitais avançadas.
Além disto, precisamos levar em conta as horas dedicadas aos mais diversos trabalhos e tarefas domésticas, o uso mais frequente de ferramentas e atalhos para entrar numa onda de produtividade exacerbada. Vivemos na chamada sociedade do cansaço, onde o trabalho ocupa a maior parte do tempo e o burnout se tornou algo frequente (OMS, 2025). Ao mesmo tempo, tarefas antes simples são mediadas por telas, e até nossas formas de lazer migraram para ambientes digitais. Isso cria:
- excesso de estímulos,
- queda de atenção,
- aumento da ansiedade,
- sensação de desconexão de si e do mundo físico.
Na Modernidade, a saúde mental começou a ser discutida após os surtos de loucura causados por males do Renascença, a psiquiatria torna-se arma de controle social nas instituições asilares como recurso diagnóstico e como forma terapêutica, e a arte assume a função de atividade para ocupar os desocupados e para controlar aqueles que não se submetiam às exigências da produção capitalista.
Atualmente, a hiperprodutividade é uma régua de medida para o sucesso. Temos horas de nossas vidas tomadas por conta do trabalho, a perda entre vida pessoal e profissional e o esgotamento físico e mental, conhecido como burnout, estão cada vez mais presentes na sociedade do cansaço.
Um olhar ancestral: arte como comunidade e pertencimento
Assim, o ser humano se volta às práticas do fazer manual como hobby, uma atividade regular e contínua realizada por prazer, no tempo livre da pessoa, sem ganho profissional ou financeiro. Em meio a tudo isso, as atividades analógicas, como cerâmica, pintura e corrida, se tornaram refúgios para quem quer sair do digital e reconectar consigo mesmo e com os outros. Uma forma de diminuir as interações digitais e substituir por conexões reais.

Povos quilombolas e originários têm a prática artística como uma atividade coletiva, diferente do pensamento ocidental que por muito tempo valorizou a prática individual. É um fazer comum que fortalece laços sociais, celebra crenças espirituais e preserva a história do grupo.
Atualmente, é possível se perceber um movimento, principalmente nas grandes cidades, de busca por atividades que estimulem a criatividade em grupos, como oficinas de pintura, cerâmica, tecelagem, costura e a prática de atividades físicas, e também estimulam a possibilidade de criar novas realidades diante do cenário social.
O que dizem as pesquisas científicas sobre atividades manuais?
A prática de hobbies pode dar às pessoas um propósito, melhorando o bem-estar e a qualidade de vida. O Australian Longitudinal Study on Women’s Health (ALSWH) analisou mais de 5.400 mulheres acima de 80 anos e descobriu que:
- 52,7% praticavam hobbies criativos regularmente;
- quem praticava apresentou menores índices de doenças físicas e mentais;
- eram mais ativas, conectadas e satisfeitas com a vida.
O estudo, financiado pelo Departamento de Saúde da Austrália e conduzido pelas Universidades de Newcastle e Queensland, reforça que hobbies criativos melhoram o bem-estar geral, aumentam o senso de propósito e diminuem o isolamento. Outras pesquisasapontam que atividades manuais regulam estresse, desenvolvem foco e funcionam como práticas terapêuticas integrativas.
Pesquisas como esta mostram que hobbies criativos servem como um meio de reunir pessoas, reduzir o isolamento e melhorar a saúde mental, promove um senso de propósito, aumentando o bem-estar e a satisfação com a vida.

Por que atividades manuais fazem bem para a saúde mental?
As atividades manuais — bordado, cerâmica, pintura, costura, fotografia, jardinagem — envolvem coordenação fina, foco e presença. Isso significa que ativam áreas cerebrais relacionadas ao relaxamento e à atenção plena (mindfulness).
1. Redução natural do estresse
Segundo um estudo publicado na revista Art Therapy, práticas artísticas reduzem o cortisol, o principal hormônio do estresse, e melhoram a regulação emocional. Os resultados mostraram que 45 minutos de criação artística resultaram em uma redução estatisticamente significativa nos níveis de cortisol em quase 75% dos participantes, independentemente da experiência prévia com arte ou do tipo de material utilizado.O simples ato de usar as mãos acalma o sistema nervoso, pois exige foco suave e repetitivo.
2. Ajuda na ansiedade e atenção
Atividades como tricô, crochê, culinária e jardinagem são frequentemente citadas como formas de “aterrar” o corpo no presente, o que é um princípio central da atenção plena (mindfulness). Pesquisas indicam que a natureza repetitiva e envolvente dessas tarefas produz dopamina (neurotransmissor da recompensa) e gera um estado semelhante ao da meditação, sendo recomendadas como estratégias complementares para ansiedade leve e moderada, pois ajudam a desviar o foco da atenção interna (pensamentos ansiosos) para o estímulo externo (a obra que está sendo criada).
3. Melhora da autoestima e sensação de propósito
A criação de algo tangível como um desenho, uma peça de cerâmica, uma pintura, ativa a sensação de competência e propósito. A psicologia positiva aponta que o ato de aprender e dominar uma nova habilidade ou alcançar pequenas metas, como finalizar uma peça de arte, é uma maneira eficaz e concreta de construir a auto-estima e a resiliência.

4. Promovem o desenvolvimento criativo
Para crianças, as artes visuais e manuais são essenciais, fazendo parte do currículo básico das escolas, pois estimulam a coordenação motora, a criatividade e o foco. Para adultos, estudos sobre terapia artística (Art Therapy) destacam seu papel na melhoria da função cognitiva (memória e capacidade de resolução de problemas) e na promoção da expressão emocional não-verbal. O processo criativo atua como um antídoto contra o estresse crônico e a hiperconectividade, reativando áreas do cérebro subutilizadas na rotina diária.
Experimente na prática: Banto em Cores
Qual atividade manual você vai começar hoje para colher esses benefícios? Aqui na Banto Casa Criativa, realizamos experiências que aproximam você do tempo livre da vida, como a Banto em Cores, um momento para você pintar com aquarela, saborear comidas, bebidas como sucos e drinks.
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