A Galeria Martins&Montero inaugura no dia 1º de abril a exposição “Passantes”, da artista Lia D Castro. A mostra reúne obras inéditas que desafiam as convenções da história da arte, promovendo uma reflexão crítica sobre representação, identidade e inclusão.
Em sua nova série, Lia D Castro parte de um gesto simbólico: a aquisição de pinturas de naturezas-mortas e paisagens em antiquários, sobre as quais intervém ao pintar pés masculinos.

Morta, 2025
ÓLEO SOBRE TELA
UNIQUE
103 X 96 CM
Foto: Estúdio em Obra
Esses pés pertencem a homens criados dentro de um sistema matriarcal, por mães, avós e tias. Além dessa reinterpretação pictórica, a artista subverte a leitura convencional do gênero ao posicionar as telas de ponta cabeça, criando um efeito visual que desafia o olhar do espectador e propõe uma nova perspectiva sobre o próprio conceito de museu e história da arte.
A inversão das imagens também dialoga com o que Lia D Castro chama de “retina colonial”, um olhar eurocêntrico que moldou a produção e a recepção das artes ao longo dos séculos.
Ao inserir esses elementos em composições tradicionalmente associadas à contemplação e à estabilidade, a artista provoca uma ressignificação crítica, questionando estruturas artísticas cristalizadas.

Morta, 2021
TINTA ÓLEO, TINTA ACRÍLICA, GRAFITE
SOBRE TELA
UNIQUE
60 X 50 CM
Inspirada no pensamento do filósofo Achille Mbembe sobre a condição do estrangeiro como “passante”, a exposição investiga fronteiras, limites e exclusões, resgatando uma tradição de representações que, embora familiares, carregam em si camadas profundas de dinâmicas sociais e políticas. O impacto do colonialismo ocidental sobre as normas e práticas artísticas é um dos temas centrais da mostra.
“Passantes” nos convida a refletir sobre as relações entre privilégio, vulnerabilidade e poder, desafiando as narrativas dominantes na arte e revelando experiências frequentemente marginalizadas. A abordagem de Lia D Castro, ao mesmo tempo delicada e incisiva, traz à tona a intimidade e a ternura subjacentes a temas de grande impacto social.
Sobre a artista Lia D Castro
Lia D Castro (Martinópolis, 1978) transita por diferentes linguagens artísticas, incluindo pintura, texto e instalação, para construir narrativas que questionam exclusões e hierarquias sociais.
Além de seu trabalho como artista visual, ela tem uma trajetória multifacetada como educadora, ativista dos direitos trans e palestrante sobre antirracismo e anti-transfobia em instituições de arte e empresas nacionais e internacionais. Seus interesses abrangem criminologia do ódio, antropologia, psicologia comportamental e sociologia.
Nos últimos anos, Lia D Castro consolidou sua presença no cenário artístico internacional. Em 2024, realizou exposições individuais institucionais no MASP (São Paulo) e no Museu Paranaense (Curitiba). Em 2023, apresentou a individual “Cumplicidade Refletida” na Galeria Jaqueline Martins (São Paulo) e “Aqueles que são dignos de serem amados” na filial da galeria em Bruxelas, com texto curatorial de Mohamed Almusibli.

Morta, 2025
ÓLEO SOBRE TELA
UNIQUE
78 X 58 CM
Foto: Estúdio em Obra
A artista também participou de importantes exposições coletivas, como “Middle Gate III” (Bélgica), “Dos Brasis: Arte e Pensamento Negro” (Sesc São Paulo) e “Hors de la nuit des normes, hors de l’énorme ennui” (Palais de Tokyo, Paris). Seu trabalho integra coleções particulares e institucionais, incluindo o S.M.A.K. (Gante, Bélgica).
Com uma produção potente e carregada de simbolismos, Lia D Castro segue ampliando as fronteiras da arte contemporânea, provocando reflexões sobre representação, identidade e memória
LIA D CASTRO: Passantes
ABERTURA 01.04.2025 16h – 19h
VISITAÇÃO: até 10.05.2025
terça a sexta, das 10h às 19h
sábados – das 11h às 17h
Martins&Montero – Rua Jamaica 50, SÃO PAULO